Não tem ouvidos, e não é surda: escuta infra-sons pelos
tentáculos - freqüências mais úteis a um ser de seu porte: transpõem
distâncias, passam colinas, vadeiam rios em vadosos vales, divagam,
ondulam penteados vagos de subsônicas vagas no longo cabelo do
vago ar e chegam, de além-longes, aceleradas pelo sólido subsolo.

Nas bocarras, vibram só as pontas de longa língua trífida.
Sai, recolhe úvidos odores e entra devagar, retida pela inércia. Três
recurvas presas superiores pontiagudíssimas - uma frontal e duas
laterais - rebrilham vãos alvores e destilam regatos de peçonha
amarela. Ao elevarem-se as cabeças às alturas, traçam venenosas
cascatas rendilhadas no azul, vaporizando a vácua beleza da Morte!

O tom das ventosas, dos pescoços e dos tentáculos altera-se
em rápidos impulsos. Cromatóforos gigantes produzem todos os
matizes, em tricromia. O monstro muda de cor por inteiro, rápido
e de uma só vez, do vermelho ao ciano, do verde ao magenta, do
azul ao amarelo, preferindo valores complementares.

Assim como todo o texto de Géa, o excerto acima tem bela sonoridade,
ao ser lido em voz alta - e não sou só eu quem diz isso. - CCDB.

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