- Como é?!? - e desta única vez a criatura não responde ao Criador...
Zúnia na télia suspensa no abisso, a Barreira da Morte, Clausar
desliga o entorno. Sente-se nu e desafiador, com o psido de Posenk
a voar ao lado. Adiante, o vórtice! Muito mais contrastado, deste
lado interno da barreira diáfana. Como o descrever? quando
até a mente do escritor se apequena?... Ah! Assim: o feliz terráqueo
apto a vibrar de orgulho pela bênção da vida ante o achegamento
da tempestade poderá visualizar o vórtice e vivenciar a emoção de
Clausar! Uma frente fria avizinha-se desse terráqueo. O manto
umbroso de nuvens cendradas, encarneiradamente revoltas, aponta;
silhueta o horizonte norte; galopa, altívago, no azul da tarde quente
de verão; cruza o zênite; tolda o anil; cobre o terráqueo e passa-o.
Igual a tampa do caixão, ao fechar-se sobre o cataléptico, deixa a
última réstia de luz; a borda reta do manto quase guilhotina o
horizonte sul, facultando ali uma faixa de saudoso céu ciano, onde
o Sol reina e doura, cálido, a ilha selvosa, lá, distante, no mar de
esmeralda e nívea bruma. Entre o manto plúmbeo e o solo apagado,
vem do norte a garganta de nuvens nocticolores, de tetro recorte,
nítido feito a boca de um palco. No âmago do palco, clareia o caos;
não se vê mais chão e céu, só o cinéreo reino homogêneo da chuva;
onde raios violeta faíscam, relampagueiam, prenunciam seu érebo;
e donde o ribombo alongado do trovão lhes acusa a farta energia;
antes de, solto da jaula de Éolo, o vento frio chegar, pisando as
árvores e unhando o capim! Se ao felizardo (ou pobre...) terráqueo
restar ânimo, dirá consigo: “- Ei! Vejo de camarote apenas meio
espetáculo! Pois tudo se desenrola do chão para cima! Embaixo,
impera a segurança, o abrigo, a blindagem, a platéia: a Terra!”. E
não poderia ter dito melhor! Grato, terráqueo, pois ora é mais fácil
para este felizardo (ou pobre...) escritor descrever o vórtice! Basta
duplicar a tempestade, girando-lhe abaixo a réplica, centrada no
meio do palco, e suprimir o planeta! Pronto! Não há mais horizonte,
norte, sul, embaixo, segurança, abrigo, blindagem, platéia, Terra!
O céu ciano do sul, o mar e o Sol sumiram. E, em vez de nuvens,
temos galáxias; em vez de relâmpagos, a Géa; em vez de trovões,
ondas de pavor; em vez de chuva e vento, o hálito da Morte! Ao
contrário da tempestade, generosa em achegar-se, o vórtice boceja
e queda lá; bruto, grosso, violento; tão imenso e infenso à antiga
Laranja qual a zúnia apsídica de agora. E o vórtice fascina! Não é
conduzido: conduz a sua fauce falciforme; puxa tudo ao palco da
aniquilação; trai o Universo e atrai cada ser, pescando-o da vida
pelo meio de gelo mole do vácuo! Convoca, longe, a Terra, coas
gentis tempestades dela... Chama, perto, Clausar e Posenk ao
proscênio apocalíptico; a ponto de o enk, arrepiado até o ectoplasma,
restaurar o entorno, para entrever-se com o intelector no efêmero
asilo: duas antênicas dentro da zúnia, por trás dos anéis de enerfrátax!

Lista geral de personagens de meus livros (PDF 640KB).

Lista de naves da obra Géa (PDF 59KB).

Mais sobre a Laranja.

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