Tranco a tranco, aproxima-se o rinocerôntico Somaropi com os
três pulverosos tripulantes e atropela as sombras de quatro altíssimas
colunatrônquias: sustentáculos do céu, separam-no da gia; aqui,
pura e recatada. Entre essas palmeiras geóctones, cresce a imagem
alva da casa-grande, construída em pavimento giênico no ritmo dos
escravos. As paredes grossíssimas de taipa caiada apóiam-se em
meio a pilares e vigas mais espessos, talhados a marculu na mais
dura madeira roxa das matas. Perto, Clausar percebe: nem esse pau
robustíssimo foi capaz de suportar o ataque dos fúrios. As bases
dos pilares estão carcomidas; toda a estrutura da habitação
amoldou-se e entortou, cansada dos espectros. Qual velha
velhíssima, poderá durar um cromat, uma primagéa; ou
vinte, cinqüenta, quinhentas... Quem sabe jamais ruirá,
fixa à eternidade imaculável de Selvespessa!

A distância reduz-se e permite notar a cerca de estacas roliças,
antes das colunatrônquias. Sem o luxo dos arames farpados, em
vez de porteira há dois varejões corrediços, enfiados nos furos
de duas volumosas traves: antigas trônquias gêmeas nascidas a
quatro trezêmbilhos uma da outra, foram cortadas em ponta a
marculadas, com dois trezêmbilhos de altura. Na trave esquerda
empoleira-se vermelhíssima e selvagem mentira, da mesma
espécie encontrada na Fazenda Pedreiras. Essa ave rúbida
nasce sabendo dizer "Mentira! Mentira! Mentira!", e pode
aprender a falar de verdade como os enks, se for ensinada.
A cerca atravessa toda a área iriável, e as extremidades
opostas perdem-se na floresta.