Meu braço está esticando! Repuxando sozinho!...
Não! Não é o monstro! Sou eu mesmo!
O outro braço e as pernas também! Estou espichando!
Rasgando!!! E sai sangue!... Sai todo o meu sangue!!!
Meu corpo se desfaz... e não dói... Ao menos posso mover-me
desta forma... Não enxergo, só sinto os pedaços e o sangue caindo
no chão! Minha mão direita foi arrancada e está ali, perto do
monstro. Ainda treme, com uns restos de gédia. E ele está ocelando...
e não pega. Não come. Não faz nada. De propósito, pra me
enlouquecer!... Minhas pernas, meus braços, a cabeça, o tronco;
tudo se espalha pela Laranja, na escuridão... E ele não toca
em mim... Não faz nada... De propósito!... Ali... no canto escuro!...
- assim remói o enkinho; assim pequenino, assim desamparado,
assim consciente da solidão e do esfacelamento da carne branda
e pura, da juventude ceifada, estraçalhada. De tanto
a abandonar, tanto a deixar de ter! Tanto!...
Para quem observasse de fora - conforme a personalidade ou a
experiência - poderia ser mais um banho de sangue, daqueles
encontrados todos os cromats nos jornais sensacionalistas. Mais
uma chacina como tantas outras, praticadas em toda parte pelos
mais variados e corriqueiros motivos. Ou assemelharia o rotineiro
e metódico trabalho das autópsias. Até mesmo a fria,
gelada, rápida e organizada obra dos açougueiros...
Não obstante... Para Rá, para a criança recém-desabrochada em
jovem, a imagem é outra... Exterior e interior confundem-se.
Indivíduo e pedaços. Carne e sangue... Sangue! Muito, muito
sangue! Em cada fibra do tapete branco permeiam e, no escuro
afora, na penumbra adentro, gotejam, espirram, esguicham,
cascateiam e arrebentam filetes, riachos, rios caudalosos e
oceanos abertos de sangue! Hurakyklôns de sangue! Estrelas,
abóbadas celestes, galáxias... espiras
de
sangue!...
Universo de sangue!
Vermelho vivo, claro vermelho: vermelho brilhante...
Vermelho
quente, grosso vermelho: vermelho pegajoso...
Vermelho morno, gelatinoso vermelho: vermelho víscido...
Vermelho frio, azulado vermelho: vermelho pálido...
Vermelho gelado, coagulado vermelho: vermelho morto...
Vermelho vermelho, vermelho vermelho: vermelho vermelho...
Sangue!!!
Para cada bíola, o pequenino indivíduo interior, era o fim da gédia.
Era a separação dilacerada da companheira, antes sempre ao lado,
laboriosa e útil. Para cada glóbulo, era a ausência do soro, do
líquido vital. Era a secura, a falta de ar, a supressão
da Géa. Era a novidade absoluta: a Morte!...
O vermelho rubro matiza em azul venoso. O géon rubi degrada
em escuro ametista. A gédia geosa nuança em tragédia...
Pedaços grandes, ossos estalados, restos de carnes... Porções
médias, vísceras, liberam humores e gases... Fragmentos
pequenos, esparsos por toda parte... Nacos miúdos a tremularem
gelatinas e ferverem bolhas, espalhando vapores quentes na
treva... Miolos... Orelhas... Írios... Dentes...
Dedos... Órgãos... Ruídos... Odores...
Entre todas as partes, fluxos de gédia inda procuram comunicar
impulsos, reunir dados, transmitir comandos, cadenciar peristaltismos,
conservar memórias... Contudo, escorregam no pântano vermelho
do sangue e decaem... Afogam-se... Emergem três vezes, estendem
mãos febris, agarram-se uns aos outros. Tênues, finos, sutis,
abraçam bocados de carne moribunda, e é como levantar
montanhas. Não se movem. Insistem em ficar ali espalhados,
morrendo, vivenciando o terror dos preciosos últimos estatos...
Estatos vermelhos. Vermelhos de sangue. Vermelhos de fogo.
Vermelhos de calor. Vermelhos de bandeiras, de incêndios, de
arranhões, de feridas, de chagas, de línguas, de mucosas; de
entranhas, lanternas, corais, tintas, ódios, vergonhas, plumas,
anúncios, alcovas, lençóis, absorventes,
hemoptises... demônios...
Desmancha-se em vermelho a gédia de Rá. Em sangue. Universos
de sangue... Doze espectros de idade consomem-se em doze
trínticos. Espalham-se em vermelho negro no chão trevoso.
- A mente se desmancha também... Vai sumindo. - pronuncia o
enkinho, em débil murmúrio. - Estou apagando... Findando...
Não sinto... mais nada...
Pai! Mãe! Bio!... Já não adianta!... Agéo a Vocês! Eu os beldo muito!...
Estou... morrendo... aqui... no escuro... E o monstro continua ali...
ali... Ali... no canto... esc... - e Rá prossegue no combate contra
as trevas, circunvolvendo idéias repetitivas, pendulando,
perivagando o avantesma por detrás das cílias cerradas.
Ali... medo... no canto... terror... escuro... pavor...
Ali... pó...
no canto... pena... escuro... mágoa...
Ali... pesar... no canto... revolta... escuro... maldade...
Ali... tentáculos... no canto... quelíceras... escuro... chifres...
Ali... fetidez... no canto... repugnância... escuro... o asco...
Ali... ulceração... no canto... gangrena... escuro... ocaso...
Ali... extermínio... no canto... aniquilação... escuro... o caos...
Ao redor do enkinho em transe de morte, traços de negro sobre
fundo preto desenham o nada no vazio. Contornos de coisa
nenhuma... dentro de nenhuma coisa. Molduras de géon sem
gédons, vibrações sem freqüências, luzes sem cor realçam o
quadro de tintas espessas, onde os pêlos urticantes do pincel
da Angústia espargem rastros de tatarana nas feridas da Dor.
Toques de mãos sem dedos, olhares de rostos sem olhos, beijos
de bocas sem lábios, aragens dos vácuos infindos trazem
lamentos
de sementes estéreis, perfumes inodoros de flores
sem pétalas, brotadas na lama viscosa da Escuridão...
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Nota de CCDB: Idavan Ricciardi é Coronel Médico da Aeronáutica R/R e, na vida civil, médico com título de especialista em ginecologia e obstetrícia pela Associação Médica Brasileira, Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública e diplomado pela ESG (Escola Superior de Guerra) no Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.
Opinião de Júlio C. Martins sobre as minhas ilustrações
Nota de CCDB: Júlio C. Martins é Professor da UFES (no curso de Comunicação Social) de Produção de áudio e pesquisador em comunicação e semiótica na linha acústica e percepção sonora. Mestrado em comunicação e semiótica na PUC/SP
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