A ilustração acima apresenta a ponte de comando, ou passadiço, da cosmonave veleira Altaré, cujos
materiais virtuais são ainda os da versão antiga do aplicativo usado por mim para criar as imagens
dos livros anteriores da magna obra Géa. Nessa ilustração inexistem os efeitos de materiais "raiotraçantes"
e "cáustica". Noutra página das ilustrações do Livro Décimo, a mesma ponte de comando aparecerá com
esses efeitos e novos materiais virtuais. Note como, na figura acima, não há deformação dos objetos dentro
da "bolha" vítrea que envolve a ponte, nem dos que se observam através dela e se lhe acham no exterior.
Essa deformação, causada pela refração da luz, surde nas ilustrações da mesma ponte, naquela página. - CCDB

O produtor Ardo achega-se por trás da curul de comando,
elevada no centro do passadiço umbrático de Altaré. Olhar perdidiço,
Cleona jaz recostada ali, circunfusa pelo holograma da profundeza
celeste. A perspectiva, a tangibilidade, a cor e a magnitude dos
astros são ampliadas por Nygan; e não se vêem defeitos: a imagem
supera a perfeição. Adiante, para ter vista desimpedida; à esquerda,
para poder olhar a comandante sem voltar-se de todo; e abaixo do
sólio, para não a obstar: na estação do leme, Ra-El nada tem a
fazer nos controles; pois a nave singra o espaço ao sabor das
correntes gravíficas, como o composto orgânico, filho do géon,
é conduzido devagar na seiva pelas vias do líber nos vegetais
vasculares e a prece é levada no éter ao lentíssimo alento de Géo.
(Ah, se os homens soubessem! tudo é questão de ritmo, para
compreender e conhecer a Deus...). O piloto aguarda Cleona
terminar os cálculos de rota. Simétrico à estação do leme e à
direita do sólio, o posto principal de artilharia parece vazio:
ninguém espera ataques de alguém; e senta-se ali,
invisível, a Paz, com os gatilhos
da Guerra nas mãos.

Nygan dirige o Centro de Processamento de Dados, logo atrás
de Cleona, no mesmo plano de Ra-El e da Paz. Debaixo, há outro
pavimento, cuja beira circular renteia a bolha enerfratáxica: é o
mais ínfero da ponte. Por três amplas escotilhas setoriais idênticas,
uma anterior e duas póstero-laterais, abertas no círculo mediano
desse piso e munidas de mainéis periféricos, a comandante pode
ver, num convés inda abaixo e já fora da magna bolha, as estações
secundárias de artilharia, navegação e demais encargos, em geral
ocupadas por clones. Nesse mundo sotoposto à bolha, os
assentos e consoles estão vagos; não, estáticos: os dispositivos
inteligentes de controle e as telas multidimensionais
expansíveis denunciam-se ativos, por lampejos
e murmurinhos amortecidos.

A Espira é nítida na abóbada de enerfrátax: toma duzentos
graus horizontais, todo o teto e parte do chão. E sobra panorama
ao redor do micante esguicho de leite no céu, com total vista e
liberdade de vôo a quem comanda. A Galáxia avulta contra o
fundo galaxiado do grupo local; este sobressai, argênteo, no
painoso cúmulo de grupos espíricos e viaja rumo ao Grande Atrativo,
a seiscentos quilotrezêmbilhos por tríntico em relação ao universo do
atual bigue-bangue, um dos subuniversos, cuja existência se adivinha
na transparência negra, detrás do infinito. O vasto corpo da Kycla
sustenta mais de dois trilhões de írias, e sua massa supera tal valor;
pequeno, comparado ao gigantismo da algodoada Reflexa,
onde se acha a láctea Ky, além de dois milhões
de espectros-géon de Altaré.

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