A VISITA DE TERRAR - CAPÍTULO VI (completo!)

Nota para este site: neste ponto da leitura do Livro Primeiro de Géa, o Leitor já aprendeu diversas
palavras alienígenas, como por exemplo "nônada" (que não é a palavra da língua portuguesa "nonada",
ou "ninharia"). "Nônada", no idioma alienígena teruzês, significa "hora", mas a hora do planeta Géa, que
vale quinze minutos dos da Terra (existem noventa nônadas num "cromat" - e este quer dizer "dia"). Quando
uma palavra alienígena ou um meu neologism aparece pela vez primeira num texto de Géa ela está em itálico,
e isso remete a Leitora, o Leitor, ao Livro Treze, onde todas estão verbetadas, para serem paulatinamente
e com grande facilidade aprendidas e lidas. Neste site, as palavras alienígenas e os neologismos não estão
em geral explicados e nem sempre aparecem em itálico, inclusive porque os excertos dos textos de Géa
aqui surgem para acompanharem as ilustrações, sem a continuidade e o
planejamento do progresso da leitura que se tem na obra.

Clausar abre a porta do Laboratório. Sim... é quem previra.
E está precisando de ajuda, como em seguida imaginou.

Meio incapaz de iniciar o diálogo, um sonambúlico Terrar de olho
parado faz as saudações costumeiras em Géa, já aprendidas, e
depois tem o impulso terrestre de abraçar Clausar
e de dar três beijinhos em Gia...

- Vocês não têm jeito mesmo!... - comenta Clausar, sobre o
procedimento esquisito de Terrar, igual ao dos terráqueos em geral.

- Perdoem-me pela nônada. Estavam acordados?
- responde o homem, sem fazer caso do comentário.

- Sim! - informa Gia, pondo-se a preparar utensílios para oferecer
deliciosa e despertadora xícara de soma, espécie de café
geóctone cultivado em campos azuis. A kena antecipava
longa conversa entre Clausar e Terrar.

Estes acomodam-se no Laboratório, enquanto o recém-chegado
expõe o motivo da visita na hora imprópria.

- Não tenho tido ânimo para coisa alguma. Sinto-me isolado
de tudo; sou eu - e os outros. Tal como na Terra, mesmo em Géa as
pessoas não parecem importar-se com as coisas realmente verdadeiras
- só com futilidades. Você às vezes fala em Géo, com certeza tão
evidente! Mas, para mim, nada existe além de mim mesmo - nem isso,
inclusive, sei ao certo. O resto está distante, confuso e escuro.
Tão mais escuro quanto maior é meu conhecimento das leis físicas
e mais me aprofundo na lógica. Gostaria sinceramente de poder
acreditar, confiar; todavia pressinto algo terrível no futuro. Talvez
dê fim a este sofrimento e encontre assim
a tão decantada e inacessível paz.

Clausar reúne géas para a conversa. Vai ser difícil, desta vez. Gia
chega com duas xícaras de soma. Na porta corrediça, aberta,
surgem olhinhos vermelhos de sono: é Rá, meio acordado. Gia
também sabe como será esta lúmia; despede-se e vai com o filho.

- Meu amigo: - diz Clausar, enquanto sorve com gosto e de vez
o soma, acompanhado no gesto por Terrar - vou procurar explicar
o inexplicável. Para isso, nada melhor: o exemplo tem de
ser simples; quanto mais complexo, pior. Mostro já, já.

Clausar senta-se no posto de comando, chovem terminais já
conhecidos por Terrar - Laranja não é segredo para ele -, e
da matriz PSID produz-se na sala a figura de diminuta planta
geóctone, com dez centímetros de caule fino encimado
por pequena esfera de penugem branca.

- Ah! Temos disso na Terra também! - comenta surpreendido Terrar.

- Temo dizer: é verdade! é uma das incógnitas mais impenetráveis
para mim. Talvez por isso mesmo este vegetal esteja em toda parte,
pois servirá para explicar o inexplicável. Pode
ser algo, além de simples plântula.

Veja esta penugem. - prossegue Clausar, colhendo a imagem da
plantinha entre os dedos. As imagens PSID são "pegáveis", de tão reais.

- Sei! Como a da Terra! Se a soprar, vai sair voando pela sala,
como centenas de pequenos pára-quedas, com sementinhas
penduradas - interrompe Terrar. - Sinto-me vago, tal qual essas
sementinhas: solto no ar, solitário e sem destino, longe de tudo.

- É isso mesmo, como a da Terra - concorda Clausar. - Porém,
a planta em si não nos interessa diretamente. Servirá de base à
alegoria. Preste atenção. - e Clausar age sobre um controle PSID.
A imagem cresce, embora não muito: apenas o suficiente
para dar maior espessura aos filetes da penugem e a cada ramificação
da estrutura. A planta já não se parece com planta ao final do rápido
processo de transformação: há certa unidade na forma.

Unificado o contorno (e não mais centenas de partes destacadas), a
superfície única delineia cada filete, cada pequeno "pára-quedas"
e ao mesmo tempo toda a plantinha transmutada
pela Realidade Supravirtual.

- Observe. - prossegue Clausar. - Note a seiva a fluir pelo caule
até cada filete, passando por todos os caminhos. Perceba a
existência do mundo interior, onde tudo se comunica.
De certa forma, tudo é uma só coisa, uma só unidade.

Clausar age novamente sobre os comandos e dilatam-se ainda mais
os filetes, sem haver proporcional expansão do conjunto. É como
se a plantinha fosse pequeno balão de borracha com milhares de
ramificações, e estas se enchessem de ar, dilatando-se, engordando
- conquanto o balão não cresça desmesuradamente, como seria
o caso de simples ampliação da imagem do diminuto organismo.

A forma inicial não se perde per completo, e agora é bem visível
a unidade do meio interior: tudo aparece realmente
como objeto singular.

- Podemos dizer, Terrar: Você é uma das sementes, um dos
pequenos pára-quedas; eu, um dos outros. Podemos comparar
cada humano, geóctone, ou ser de outras espécies a um dos
pequeninos pára-quedas. Cada indivíduo possui múltiplas
ramificações, desenvolvidas como sentidos de percepção ou
membros de ação, criados não só pelo acaso e pela sobrevivência
do mais apto, ora também pela vontade de alcançar mais longe, de
relacionar-se mais com os outros entes pelo lado exterior
- as outras regiões da própria plantinha. Como já deve
estar percebendo, a plântula representa o Universo.

Pelo lado de fora, será preciso enorme crescimento e número
infinito de ramificações, para um dos pára-quedas poder atingir
todos os filetes de todos os demais e conhecer toda a realidade
objetiva. Pelo lado de dentro, tornando-se a própria seiva única,
qualquer minúsculo pára-quedas pode alcançar a unidade de toda
a plantinha. Pode conhecer a verdade intrínseca, sentir-se
inseparável e ser o próprio todo - e Clausar exagera a ação do
controle PSID, fazendo inchar muito o interior. Sem ampliar
a imagem, cada antigo filete transforma-se em simples
protuberância, e a plântula em esfera quase perfeita, agora mais
semelhante a verrugoso cogumelo, onde cada
verruga já havia sido um "pára-quedas".

Pressentindo e intuindo a Verdade, entretanto com restos de
cepticismo e malícia, o espertíssimo Terrar aciona ele mesmo o
controle PSID, movendo a mão de Clausar. O bio não percebe
o engodo e "pensando" ser ordem do próprio Clausar, obedece.
A plantinha retoma a forma original e, nem bem faz isso, Terrar
a assopra com força, fazendo a miríade de pequenos pára-quedas
destacarem-se e flutuarem livres pelo ar do Laboratório.

Ao contrário do talvez esperado, Clausar não se surpreende:
responde diretamente sobre os comandos, e uma das sementinhas
cai ao chão, introduz-se nele, como se fosse no solo, desenvolve-se
rápido em nova plantinha e reproduz a mesma imagem da planta-mãe.

Enfim se acende o sorriso (meio incrédulo) na face terrestre.
Terrar estava compreendendo a mensagem... Sim! Ainda
havia unidade, mesmo após a aparente separação!

Se não ouvisse o diálogo, só presenciando as imagens, um
observador a pouca distância julgaria ter ficado maluco o homem.

Sem dizer palavra, esquecendo a educação da Terra e o verniz
de Géa, Terrar levanta-se, caminha, sorri, abre a porta da Laranja
e sai pelo corredor do desmesurado edifício, dando três
passos e um pulinho, três passos e um pulinho...

A porta é fechada com suavidade respeitosa pelo computador.

O bio também intui o fim da missão e desliga por si mesmo
o PSID. Somem-se todas as sementes nômades e as duas plantinhas,
mãe e filha: unificadas em lento cordão de luz, fluem para uma das
esferas panfrontais. Normalmente o bio não levaria "todo esse
tempo" para recolher a imagem: teria feito num átimo, imperceptível
a humanos ou geóctones. Presenciara a conversa e ficou sozinho,
sem função; talvez houvesse compreendido o conteúdo e se pusesse
a brincar de Deus... Enquanto o bio se diverte, Clausar abre a
vigia de sub-x e debruça-se para olhar a rua lá embaixo.

O enk vê um saltitante Terrar sair do prédio. O terráqueo cumprimenta
os raros geóctones encontrados a essas horas pela rua, às vezes abre
os braços e faz gestos de danças terrestres, e depois segue até
chegar ao robocar, estacionado duas travessas adiante. O homem
entra no veículo e sai em disparada rumo à praia mais próxima:
quer curtir a luz do luar de Prânia e (quem sabe) compartilhar com
alguma geóctone perdida na noite clara - perdão; na Lúmia
cheia de géons - a nova visão de si mesmo e do Cosmos.

Suave perfume e um mais sutil roçar de flexíveis braços rodeiam
os ombros de Clausar. Este se volta e segue, desta vez para o
resto da Lúmia, com Gia até a pequena e feliz morada
- o desbotado sofá geóctone.

Nota: embora dicionarizada (nos dicionários convencionais) com outras acepções e iniciada com
minúscula, utilizo no texto de Géa a palavra Cosmos, sempre com inicial maiúscula, como sinônima
da palavra Cosmo (dicionarizada com inicial minúscula e que também sempre utilizo com inicial maiúscula),
a qual significa Universo. Isso porque, na minha acepção de Universo, incluo planos ou esferas ignorados
pelos cientistas positivistas, mas visitados pelos místicos. Quando escrevo universo com inicial minúscula,
refiro-me ao universo conhecido pelos cientistas; quando o faço com inicial maiúscula,
trato do Universo que inclui todas as esferas ou planos. - CCDB - 21-10-2007

Veja (rolando a página que se abrirá) outra aplicação da ilustração desta página

............

Sobre fendas ou fissuras no continuum, velocidade igual ou superior à do géon (luz), Newton e Einstein.

Na página mais visitada deste site você pode saber muito mais sobre o plano mens!

Planeta Penta Ro Bolinei.

Em Penta o sol nasce descendo (animação).

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Altaré ronda Penta (animação).

O passadiço de Altaré (animação).

Lista geral de personagens dos livros de minha autoria (PDF 640KB). - CCDB

Lista das naves da obra Géa (PDF 59KB).

O disco voador chamado Laranja.

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Geínha - a Série Infanto-juvenil que também os adultos adorarão!

Mais sobre Géa.

Entretenimento.

A Constelação da Telária.

 


Detalhes sobre os novos semblantes de Rá, de Talia e de Ky,
criados para Geínha, com informações sobre como os produzi,
você verá nas ilustrações do Livro Nono de Geínha e nas páginas:

Novo Rá

Nova Talia

Novíssima Talia

Talia expressiva

Ky: amo perdidamente minhas personagens


Opinião do cineasta hollywoodiano Jeff McCarty sobre as minhas ilustrações em geral

Opinião do cineasta Jeff McCarty sobre a página "Ky: amo perdidamente minhas personagens"

Opinião do cineasta Jeff McCarty sobre as ilustrações do Livro Onze de Geínha

Opinião de Sergio Sacco sobre as ilustrações de Géa e Geínha com resposta minha esclarecedora sobre tais ilustrações

Nota de CCDB: ver qualificações de Sergio Sacco na página "Melhor que o resto do site?"

Opinião de Rossano Vicêncio (Galáctico da Luz) sobre as ilustrações de Geínha com resposta minha esclarecedora sobre tais ilustrações

Opinião de Idavan Ricciardi sobre minhas ilustrações e sugestão sua sobre publicação de meus livros em quadrinhos

Nota de CCDB: Idavan Ricciardi é Coronel Médico da Aeronáutica R/R e, na vida civil, médico com título de especialista em ginecologia e obstetrícia pela Associação Médica Brasileira, Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública e diplomado pela ESG (Escola Superior de Guerra) no Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

Opinião de Júlio C. Martins sobre as minhas ilustrações

Nota de CCDB: Júlio C. Martins é Professor da UFES (no curso de Comunicação Social) de Produção de áudio e pesquisador em comunicação e semiótica na linha acústica e percepção sonora. Mestrado em comunicação e semiótica na PUC/SP

Opinião do Professor Alysson Junior (Cowboy Alysson Jr.)

 


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