O bio estranha tais pensamentos, emitidos em voz alta,
e responde, julgando ser oportuno:

- Clausar viverá para sempre, como eu!

- Bio! Já lhe disse: não está vivo! Nem morto.
Você é máquina biótica.

- Não estou certo disso.

O enk desiste da conversa e, antes de retomar as idéias fúnebres,
a necrópole já ficou para trás. Seus írios desassombram.
Agora é a praia... o mar... o céu!

O geóctone eleva a altiva fronte e baixa o sólio,
para observar o ciano entre os nimbos.

Avança suavemente a mão direita. O encosto da curul de
comando pressiona; e as soltas nuvens acima se integram em
camada uniforme, refluindo bem próxima, às vezes roçada. Debaixo
escapa o verde, gravífico, oceano. Indiferente... pleno de infinitos.

Intensifica-se o aroma de santálio.

- Rio das Valvas. - ordena Clausar ao bio, enquanto eleva um
quarto de trezêmbilho a destra, indicador destacado, e obtém
estatânea resposta do Ionomag. Amarela o iônelo sob a nave,
sobressai o tom das bobinas de campo. A Laranja inclina.
Adiante o céu abre nos dois enerfrátax. Atrás, fecha o mar.
O horizonte sensível delineia-se do anel inferior ao superior
nas vistas laterais, da frente para trás. A manta de nimbos é perfurada.
Vai encolhendo lá embaixo, a mil trezêmbilhos de altitude.
Amplo lençol de nimbo-estratos sobrejaz a
dois mil e quinhentos trezêmbilhos.

O agradável odor de santálio enche a sala de comando e
atinge valor máximo, próximo à barreira sônica.

- Desrefratar. - o refrator é desligado; e finalmente se pode ver a
Laranja riscar o ar de Géa, entre um anel iônico vermelho,
por cima, e outro amarelo, por baixo. As calotas prateadas, o brilhante
enerfrátax e a alvíssima beirada do volante conformam a fuselagem
lenticular, sem qualquer protuberância, símbolo ou recorte.
São a pureza da forma e a própria elegância em vôo.

- Graças a Géo! Este refrator é uma jétia! - desabafa o
habitualmente educado enk, aliviado da obnubilação.

- Poderíamos projetar outro. Existe o sistema de 4 Beta Antilae.

- Distorce demais a visão e aumenta a inércia.

- Aperfeiçoaríamos.

- O refrator é muito superior. E é projeto nosso; não, alheio.
Fica tal qual está, até instalarmos a nova esférula.

Se pudesse ter medo, o bio estaria aterrorizado, pois a esférula é
seu cérebro, seu ego. Faz silêncio e deixa Clausar recompor-se
em paz do entorpecimento mental e suas contradições.

- Detectaram-nos a Laranja pelo psider. Tráfego aéreo no PSID,
cor 11. São dois caças transônicos Quimeras. Sugiro refratar.
Deseja coordenadas mundo e listar armamentos?

- Não. Vamos brincar...

O refrator não afeta apenas as ondas geosas. Serve inclusive no
resto da faixa eletromagnética e mesmo em parte da mental.
Seria fácil camuflar a Laranja refratando as ondas do psider,
sistema psicofotônico pouco superior ao radar terrestre, nome
formado pelas iniciais de psico detector e rastreio. Quanto à
"cor 11", trata-se da direção de nossas onze horas, porém em
mostrador setorial gravado com os doze meses, ou cores. Usa-se
também essa orientação na Laranja,
pois é a mesma dos doze ductos.

- No áudio. - informa o bio.

- OVNI: identifique-se ou abrimos AGEER. - é o som nítido vindo
da cor 11, onde dois dardos prateados exibem o magnífico símbolo
da Força Aérea de Teruz estampado na longa fuselagem, nas curtas
asas retráteis de diedro negativo e no único leme vertical de rumo.
Não há profundor, só asas. Aproximam-se em velocidade
supersônica. Sobre o termo AGEER: forma-se das iniciais de
Amplificação de Géon por Emissão Estimulada de Radiação.
Pronuncia-se "agêer"; e, não, "agir", como seria em inglês.

Lista geral de naves da obra Géa. (PDF 59KB)

Saiba tudo sobre o Ionomag ©, sistema de vôo atmosférico da Laranja,
mais uma invenção que funciona de verdade, do país que é o pai da aviação.

ATENÇÃO!: durante a leitura dos nobilíssimos textos de Géa
sob as respectivas ilustrações, você encontrará palavras do
idioma alienígena teruzês - como "írios" (olhos), "géon" (luz),
"beldo" (amor), "géa" (com inicial minúscula: simples energia),
ou "Géa" (com inicial maiúscula: a Essência das essências - e
muito mais) e algumas de outras línguas de diversos mundos.

Nos livros de Géa, tais palavras são paulatinamente apresentadas
e, ao surgirem pela vez primeira (e apenas nessa vez) em tais livros,
estão em itálico. A programação dessa aprendizagem é tão bem
feita nos livros, que não obriga à consulta ao (por outros motivos,
indispensabilíssimo) Livro Treze - aqueles itálicos
são o aviso de ali se acharem verbetadas.

Nos textos sob estas ilustrações (reduzida amostra, perante o texto
completo da obra), neste site, essas palavras nem sempre aparecem
em itálico porque o foram em textos de páginas anteriores
- não exibidos aqui, mas somente nos próprios livros.

O aprendizado dos vocábulos alienígenas é extremamente fácil e
agradável, porquanto bem planejado, se se der na leitura da
própria obra (nos livros), o que entretém e ajuda a tirar
o Leitor, a Leitora, do ambiente cotidiano da Terra.

Salvo raras exceções, as palavras extraterrestres NÃO se explicam
nos textos sob as ilustrações deste site, pois estes cá se encontram
(além de como exemplos adrede velados) para estadearem quão
diferentes e originais se distinguem, comparados aos de outros
autores, de modo a interessarem o editor em publicá-los e
encantarem o Visitante deste site - sem transparentarem-se de
todo, qual nos livros onde nasceram cristalinos. - CCDB