re-Tornado!?! - Leia a nota de 21-06-2005 no fim desta página!
T O R
NA
DO
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Hoje, às quinze horas, estava eu revisando um capítulo do Livro Oitavo da Série Infanto-juvenil, quando ouvi um som extremamente grave, mesmo abaixo dos subgraves do imbatível Subwoofer Labiríntico Central CCDB, aqui atrás com o Gauss de 18", a escandir com absoluta igualdade os baixos de um CD dos velhos tempos, presenteado pelo Afonsinho. Meus ouvidos treinados não me contaram o que fossem tais freqüências, pois não as alcançavam; porém minha roupa vibrou, e isso eu senti. Seria longínquo sismo? Um trator passando por perto? Não. Era positivamente um ruído subsônico para mim inaudito. Deixei pra lá e continuei o trabalho. Poucos minutos depois, os primeiros pingos da chuva caíram e corri abrir as cortinas (sem as quais não enxergo a tela do monitor), para cerrar as janelas e evitar a inundação da sala... Então... Então! ENTÃO! eu vi!! Vi, para os lados de Macaé, meu primeiríssimo tornado!!! TORNADO!!! TOR-NA-DO!!! Daqueles perfeitos, esbelto mas completo, do céu ao chão, talvez classificável de "número um" na escala dos especialistas. A janela cuja cortina eu abrira fica a "dez horas" de meu posto no computador, no meio da sala de seis por onze metros, e três de altura, onde continua a resistir o lendário Sistema de Áudio CCDB, construído por mim em 1972 e até hoje viajado comigo por vários endereços, sem uma assistência técnica sequer a partes fixas. Por essa janela posso ver a cidade de Macaé, na curva do mar, a uns vinte e cinco quilômetros de casa. Derredor de meu posto, a sala tem janelas para todos os lados, há poucos dias substituídas por vidros temperados fumê cinzentos, com excelente visão para a paisagem, livres de ofuscações e dando ótima gama de meios tons para o contraste cinéreo das nuvens. Deixei em paz as cortinas, as janelas cendradas e saltei à porta, inteira de vidro e sem cortina. De lá vi minha mulher, Dalgiza, teimando em sua esperança de a chuva ir-se e aferrada na pilotagem do cortador elétrico de grama, apesar dos meus avisos usuais de cautela contra eletrocução. Comecei a gritar; mas cortou-me o grito ao meio a deusa Acústica: através da porta vítrea com dez milímetros de espessura e sob o ruído intenso junto ao cortador, Dalgiza nunca me ouviria. Quase quebrei as duas chaves na porta, ao torcê-las para abri-la. Afinal consegui, fui à escada (a sala fica no primeiro andar) e lá de cima gritei: - Giza!!! Nada... Ela não ouviu. Berrei então: - GIZA!!!! Nada ainda. Hauri o ar como um tornado e, pra Estentor nenhum botar defeito, bradei: - GIZA!!!!!!! TORNÁÁÁDO!!!!!!! Ah! Com cortador de grama e tudo, agora Dalgiza ouviu! E deve ter ouvido outrossim os meus bramidos um vizinho até então invisível para mim, por achar-se na calçada do outro lado da rua, abaixo do nível de minha casa e oculto pela nossa sebe de hibisco - sei, porque logo em seguida o veria. Giza largou o cortador e correu para a escada onde eu me achava. Mesmo ao atingir o patamar à meia altura, ao ver-me apontando para o lado de Macaé, voltou-se e viu! Viu! VIU TAMBÉM o TORNADO!!! Cinza-escuro no topo, da mesma cor do teto de nuvens que avançava rápido do mar prateado à terra, ele clareava quase ao branco mais abaixo em seu afilado cone, destacando-se perfeitamente contra o fundo cinza-claro. Nascera ou não qual tromba sobre o oceano; sem nenhuma dúvida alcançava o solo, pois não podíamos precisar se passava além, por dentro ou aquém de Macaé, já que a cidade se ocultava numa névoa de chuva fulvescente. - Cadê o Rá?!? Ele tá em Macaé?!? - exclamei para Giza. - Tá em Rio das Ostras! Foi dar aula a uma senhora que o chamou pelo telefone. - Ah! Graças a Deus! (não estava em Macaé). Giza terminou de subir a escada, sorriu alegre para mim, eternizou na memória o tornado e correu de volta à relva para enrolar os muitos metros de fio elétrico do cortador, guardando-o depois num quartinho, edícula recém-construída atrás de casa. Enquanto isso... Contemplei o tornado por intérminos três minutos!!! E agora? Construo um abrigo? Não tenho dinheiro: foi-se todinho e mais um pouco, na troca das janelas e portas de ferro, que empós dez anos de heróica resistência à maresia vinham caindo aos pedaços, enferrujadas, sobre a gente lá embaixo. Agora é rezar pra terminar a Série Infanto-juvenil antes de passar algum tornado mais perto e me levar corajosamente para onde escritor algum jamais esteve... e vivo! até chegar e continuar vivo no Além, para ver melhor, lá de cima, todos os tornados, e galáxias, e centripófagos, e turbogravos, e vórtices do Universo. - Ninguém mais viu esse tornado? - evidentemente alguém perguntaria. - Sim. Por felicidade, um vizinho com o qual não me dou (e por isso mesmo insuspeito, se não resolver contradizer-me para me desacreditar...) o viu. |
Subi à área de cobertura de casa, que fica no alto de um morro e tem trezentos e sessenta graus de vasto panorama. Pude enxergar melhor ainda o tornado. E dali eu podia ver o vizinho lá embaixo, do outro lado da rua, na varanda de sua residência. O vizinho olhava e apontava a outrem o tornado no rumo de Macaé. Portanto, somos no mínimo três (se o tal "outrem" nada tiver visto) por aqui a observarmos o fenômeno. Lembrei-me do binóculo de meu filho Rafael. Desci da cobertura à sala e apanhei esse instrumento óptico. Quanto voltei à cobertura, o tornado já se fora e a chuva aumentava. Giza lá embaixo, encharcada, guardava enfim o cortador no quartinho. Desci novamente e corri cá pra sala, dar a notícia pelo computador. Se eu possuísse uma câmara digital qualquer, ou outro meio adequado, tivera tempo para documentar com imagem o tornado. Já troveja forte e, mesmo assim (como não é meu costume, para proteger o equipamento), estou firme conectado à Internet lenta e pagando os pulsos, para informar isto a Você.
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____________Acredite: é tudo verdade.__________
(1) Dez anos depois de eu publicar esta página; em 2014, Brian Singer dirigiu o filme "X-Men: Days of Future Past", onde a minha visualização do estádio girando sobre a cabeça se concretiza, na medida do possível aos recursos do cinema de hoje. Mais "coincidências" significativas entre a minha obra e a de terceiros, você numa das páginas mais visitadas e ricas deste site: Nem Plágio Nem Coincidência. - CCDB 07-01-2015
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