SEM TRUQUES.
SÓ A PERFEIÇÃO DO AMOR!
Matéria publicada por CCDB no FACEbook em 21-12-2018
Excertos de Géa Ilustrada, Livro Oitavo, páginas 2369, 2370, 2372, 2377, 2378, 2382, 2383 e 2384
Clausar vai no exíguo lugar escuro atrás do banco, bem apertado com Ky. Sérias e Louriage, na frente, pretendem alternar o comando da nave logo ao longo da viagem vasta, pela longuidão lânguida do espaço gélido, onde chamejam calmamente as gemas geosas da Telária, corações estelares palpitando em radioativo e benfazejo calor. Quase todos esses astros assistiram ao despertar do homem; e sua distante calidez parece revelar a radiosa esperança, se esperanças estrelas têm, de jamais lhe verem o frio dormir e de lhe acolherem a propagação em sua quente e vivífica cercania.
No momento, como ainda não partiram para longe da argentada região cislunar, é Louriage quem pilota, devido a seu dom peculiar de servir-se do EXÓS no morno âmbito planetário.
Nenhuma íria pisca acima da atmosfera da Terra; estrela alguma tremula, pelo risco iminente de eclodir a guerra de proporções desmedidas, tão ampla qual soem ser as galáxias, tão medonha qual soem ser os aracnopólipos. No céu profundo, só o pavor cintila.
- Agéo, Terra! Adeus, Tri Delta Telariae! Possa eu, ensolarado dia ou enluarada noite, voltar a respirar-te os tépidos ares azuis ou as doces sombras de prata!... - e Clausar deixa correr lenta lágrima geóctone, onde súbito se refrata e fulgura o brilho do Sol, instantemente a surgir no horizonte convexo do orbe, cuja curvatura cresce, segue o perfil da gota salgada, e depois se espalha, para tingir, nos laranjas-íris da alvorada cósmica, a face do enk, absorver-se nela, misturar-se-lhe ao Ky e ofertar-lhe, para sempre, um cálice de ouro com o vinho celeste da cândida Alma tridéltica!
Ao ver acenderem-se os azuis e brancos da Terra, Ky subri, afaga o cabelo do pai, atrai-lhe a cabeça a o colo, inclina a fronte e verte dançarina lagrimazinha: ela rola-lhe redonda e rútila pela maçã do rosto jovem sem tocar-lhe a pele, saltita-lhe com vaporosas sapatilhas aeriformes pelo delicado nariz, pula do elegante trampolim, pinga na face inda úmida de Clausar e mistura-se-lhe ao pranto.
Na mente comovida do enk, a lágrima de Ky, Dança e Alma geóctone, cai, sob a gravidade artificial da nave, à tona safírica do oceano, líqüida Alma terrestre, e ainda não se mescla: ricocheteia; sobe em parábola e desce; repete o moto uma, duas, três vezes; por fim, cedem as filauciosas tensões superficiais, e os espíritos da gota e do mar misturam-se, no esplendíssimo graal de ouro torneado pelo Sol. Géa e Terra são um só luzeiro em Clausar. Ky capta-lhe e comparte a visão: ao unirem-se as percepções, povoa-se-lhes a imagem de detalhes luminosos; raios de estrelas clareiam minúcias, cujo brilho acentua as sombras, num fractal de lisérgico apogeu.
Feito a dedirrósea Aurora hoje preme a chave da luz elétrica do alvorecer, a contemplação compartilhada de Clausar e Ky é interrompida pela voz doce de Louriage, no comando da Nau:
- Está acordada, Ansata?
- Hu-hum...
- Pensava... Como conservará a forma, longe dos palcos?
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- Por falar em contemplação, contemplem! Eis o lugar onde o pequeno buraco negro da Blue Chaos pode mostrar o tamanho de seu alcance! Preparem-se para o salto EXÓS! Apertem os cintos! Um Mu-Nu Telariae: aqui vamos nós!
Endoidecidos raios de luz a vergastarem o espaço, alçam-se os cabelos solares de Louriage e chicoteiam derredor, já sem peso. Isso, até se abrir o empuxo do buraco negro; daí se estiram para trás, tocam o enerfrátax ao fundo da pequeníssima Nau, e não se misturam às ondas negras dos cabelos de Ky: ambos lutam lado a lado feito as bicolores águas na confluência de revoltos rios... Só se mesclam as partículas dos perfumes, qual aflitos peixinhos; e o ambiente da Blue Chaos odora-se, inebriando Sérias e Clausar.
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- Incrível sua idéia, Té! não é, Lú?!
- Sim, mô! Eriei falar de Altaré e sua forma de caravela, coas armaduras e os mastros inclináveis! Lembra-me provectos aedos terráqueos; e, ao mesmo ritmo, é nova, qual se estes lá cantaram: “- O vento da noite soprou as estrelas do céu. E veio o Sol e soprou o céu da noite...”, e jamais o disseram... Altaré é uma nova poesia velha, e das tristes! Não sabia do estrago feito nela pelos piratas.
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Sob o pingalim da loura amazona, a singularidade zumbe mais forte, a autonave salta para o plano mens, e a imagem da Terra surge crescente no vídeo, captada direto do plano mens pelo espectromenscópio de Clausar. O orbe mais a companheira fiel, a Lua (ora de argêntea face voltada a seu amor azul e rendada saia de luar), recrescem e, de gravidades dadas, a valsarem rodopios em diurnas piruetas e mensais compassos, sob o som do Sol perpassam, para darem lugar, no planetário salão encortinado de vácuo veludo, a pontinhos disformes na profundidade da imagem multidimensional.
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Antes jamais tocadas pelo som, as rochas surdas arrepiam-se de assombro e ouvem! Sua Alma sáxea desprende felizes fumaças de areia, e as partículas distanciam-se-lhes da superfície nítida, presenteando-as coa meiga maciez das fofas brumas de algodão. O espaço já é mais céu; as pedras já são mais nuvens, e um sol já rodopia e brilha e abrasa e brinca e baila entre elas!
Oito minutos e trinta e nove segundos de música; e pronto: a eternidade já não é a mesma; se um dia existiu o vácuo, doravante não existe mais: transformou-se em Dança e Música, para eterna glória de Géa e da Terra!... Ondas. Hipnóticas ondas...
Eis Clausar, atirado pelas ondas ao passado da Terra aos tempos da Ilíada. Ao ver-lhe cantar na treva o autor à lira, o enk age:
Desfere ao Ida as estrelas feridas
Pela érea choupa dourada de anéis
Do rei dos reis, maioral dos Atridas.
Os lumes vibra té os numes, fiéis:
Do aedo cego a agudeza o seduz.
A curva ao céu concaviza convexa,
Desata e rapta de Jove alma luz,
De Homero ao cenho mil olhos anexa!
E Clausar acorda: sonhava dar olhos ao argos dos videntes...
- Pai!!! Irie! Cheguei ao outro lado! Posso ver bem diante dos írios a forma imponente de Altaré! - assim é o primeiro chamado da realidade, longíquo rumo em meio à fantasia. Clausar responde vagamente; daí, é a vez de Louriage e, por último, de Sérias; todos relutantes em trocarem o êxtase mutante pela visão (talvez não muito atraente) da derradeira morada de astronaves.
- Sim... filha...
- Certo... Ansata... Estamos logo atrás de Você...
- Pode seguir adiante, sobrinha dileta minha...
- Ora! Finalmente assumiu? titio. Ih-hi!...
- Só se não me encher a paciência!
- Iriolhem!!! Eis Altaré!!!
- Meu Géo, Ansata!
- Triângulos!
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Por trás de Altaré, some-se no céu sem horizonte um mar obpiramidal de naves de todos os tipos e tamanhos, abandonadas com satélites artificiais, sondas obóveas, entulho da construção de estações, bases e fortalezas; entanto inexiste, ou parece, adeleiro para guardar o depósito, colher e catalogar peças aproveitáveis, reciclá-las, vendê-las e realizar as funções corriqueiras dos titânios-velhos. A imagem das cosmonaves com seus ventres abertos e expostos, coa perspectiva violada pelos amassamentos e buracos, tende à apresentação integral dos objetos, por dentro e por fora, de todos os lados; e a geometria do oblívio clama pela presença física dos cubistas, cujas Almas teimam em não aparecerem no paradoxal retrato, ou, se ali estão, mimetizam-se em meio aos contrastes, para, de súbito, saltarem sobre o visitante incauto, pincéis nas mãos, prontas a integrarem-no ao corpo estraçalhado de seu quimérico deus, o Caos, com toscos, negros e pegajosos borrões! Talvez por se ocultarem ali tais obnóxios fantasmas, a necrópole mostre-se erma feito os desertos; entretanto, nenhum deserto é deveras vazio, e quaisquer areias abrasadas escondem a mais renitente ecologia.
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Nas ilustrações, imagens de Ky, criadas por mim em várias épocas, via 3ds Max e de Altaré, o veleiro cósmico.
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- CCDB 14-01-2019
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