"- Daqui a alguns crons, Té, no lugar da Terra onde
hoje fica o Brasil, uma das coisas mais interessantes será a vitória-régia!
- Conheço essa, Kier! Há belas imagens dela no programa
umuno! É uma ninfeácea; não é?
- Bom, Té; se é ninfeácea ou mãe-d'aguácea não sei. Mas
é capaz de suportar o peso de um homem: a Lú viu num filme.
- Vi, e era um menino. Homem, depende: se for lutador
de sumô, não faço fé!... Pra esse servem de tanga! ou de brincos!!
- Há-há-ha... Mas a planta é linda! Tem folhas redondas
enormes, lisas na face superior e espinhosas embaixo; certo, Kier?
- Pois justo isso mudará, Té! No futuro, as folhas da
vitória-régia serão quadradas, para aproveitarem melhor o espaço sobre
a água. As flores subirão, à noite, por um alçapão no canto das folhas.
- Ah, Kier! Deixe de lorotas! Isso aí já é meio demais!...
- Juro pelas ninfas, Té! E os índios do porvir costuram
os bordos das folhas da vitória-quadrada pra formarem pontes, passarelas;
até blindados transitam por cima e cruzam o Córrego Amazonas, no meio do
Deserto da Amazônia! Os nativos cobram pedágio e compram filmes do passado,
quando tudo era verde, pra ensinarem tradição aos filhos; pois, no futuro,
o país voltará a ser deles. Seu maior projeto é plantar as sementes furadas
dos colares arrancados aos museus pra restaurarem a selva. O grande problema
é tirarem os furos dos troncos das árvores dessas linhagens... e não querem
usar furos transgênicos: medo de furarem o mundo!
- Nht! Vá à jétia, Kier!...
- No futuro não tem, Té! A bosta é exportada ao oriente,
reprocessada, e retorna pra ser vendida, a peso de ouro, em barras com
aroma e sabor artificial de chocolate, porquanto o cacau não existe mais:
virou plantação de vassouras para bruxas... Nem as variedades novas resistiram:
as bruxas trocaram de vassoura!
- Com fome, Você fica mais criativo ainda, Sérias! Toda
essa história era pra chegar ao chocolate... Tome! Só este tablete, senão
vai ter de tocar sentado no próximo espetáculo do TCA...
- Obrigado, Lú! - Num “arrebatamento” (Sérias preferiria
o popular “rompante”) psíquico, Sérias dá-lhe um beijo no cocuruto da Alma...
aí volta ao corpo e: - Depressa, pegue um pedaço, Ansata; senão, como tudo!
E Você, Lú!
- Obrigada! - agradece Ansata (- Obrigada também! - ecoa
Louriage) e Sérias prossegue: - Prove, Té! É uma das melhores coisas desta
merda de mundo!
- Hum!!! Parece watly! Delicioso mesmo! Obrigado!... Por
falar em merda, aonde vamos, Kier?..."
Onde Té é o apelido de Clausar; Kier, o de Sérias - o
irmão eterilista (tocador de etérila, instrumento parecido com guitarra)
de Clausar que adora fazer piadas sobre a Terra, mundo batizado de Blue
Chaos por ele - mesmo nome dado a sua linda nave azul e branca; Ansata,
o pseudônimo artístico de Ky, a bailarina filha-amante de Clausar; Lú,
o apelido de Louriage, esposa de Sérias; umuno quer dizer "dos umunos",
habitantes do planeta Umuno; jétia é merda na linguagem chamada "teruzês",
falada no país Teruz, uma espécie de Brasil no planeta Géa; e TCA é o Teatro
Cósmico Aberto, onde os membros da Irmandade Galáctica se reúnem para assistirem
a variadíssimos espetáculos.
"Géa"
começou a ser escrita em 10/10/94, foi registrada com texto parcial pela
primeira vez em 27/09/96 na Biblioteca Nacional e novamente registrada
COM TEXTO INTEGRAL em 08/01/2003, na mesma biblioteca. Está lá para quem
quiser conferir.
Atenção: eu, o autor
de Géa,
não me intitulo profeta. Tentei por todos os meios normais publicar Géa,
assim que a terminei, mas levou um ano para vir a público. Noticiei Géa ao Presidente da República Fernando
Henrique Cardoso (que me respondeu desejando sucesso); fi-lo ao Ministro
de Estado da Cultura do governo seguinte,Gilberto Passos Gil Moreira (que me não respondeu) e a mais de quatrocentos editores, cujos endereços
descobri na Câmara Brasileira do Livro. Desde antes de principiar o trabalho, sabia que não estava só ao escrever a magna obra; porém,
não, que previa a inesperadíssima seca atual, muito menos a verdadeira
transformação da Amazônia num deserto, ou que Alguém me usava como veículo
dessa previsão. Se soubesse que uma desertificação, parecida com a que
"inventei" para descrever em Géa,
atingiria a Amazônia, comprometendo o próprio Rio Amazonas, teria corrido
pelas ruas gritando o alerta, mesmo que por isso me prendessem ou internassem
num hospício. - CCDB.
CCDB - 11-10-2005
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